domingo, 29 de novembro de 2009

Sambaqui Morro dos Índios é um exemplo de descaso com o patrimônio histórico




Apesar de uma placa do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) alertar que a destruição ou retirada de material do Sítio Arqueológico de Xangri-lá, localizado no litoral gaúcho, constitui em crime sujeito às penas de multa e detenção, desde o ano passado cerca de seis famílias construíram casas no terreno. As moradias ocupam uma área irregular no sambaqui Morro dos Índios, que possui cerca de 500m2. Três casebres de madeira avançam dentro da cerca de proteção. O local também é utilizado frequentemente por visitantes indesejáveis, que deixam a sua marca. Em alguns pontos a cerca encontra-se derrubada e se pode avistar dentro da área do sambaqui restos de papel e plástico. Nos lados norte e sul, há dois depósitos de resíduos de construção civil. Um deles gigantesco. A própria delimitação da área está pouco clara.

Por esse motivo, o Morro dos Índios está sob investigação em inquérito civil público. De acordo com a prefeitura, as pessoas e famílias que têm residência no local já foram notificadas de que estão em área de proteção. Isso gerou protestos de proprietários e posseiros, que simplesmente ignoram a importância histórica do local. Inclusive há casos de pessoas que venderam suas residências, não comunicando aos compradores a existência de questões referentes ao sambaqui. Essa transação ilegal dificulta ainda mais um acordo entre as partes.

A menos de 100m do sítio arqueológico, existe as vilas Figueirinha e Goiabinha, casas de veraneio e áreas de condomínios fechados. Também se localiza nas imediações do Morro dos Índios, o campo do Sambaqui, que recebe jogos do campeonato municipal de Xangri-lá e pertence a um time homônimo. A reserva também não é explorada pelo turismo. Não existe uma visita guiada, por exemplo, ao local. Na verdade, a existência do sítio é desconhecida por grande percentual de moradores e veranistas. A Escola Estadual de Ensino Médio de Xangri-lá fica a cerca de 500 metros do sambaqui, mas não possui nenhum projeto pedagógico voltado ao ensino e pesquisa da área de preservação.

Os sambaquis são patrimônios culturais. De acordo com a Wikipédia, sambaqui é um termo de origem tupi que significa monte de conchas. São depósitos construídos pelos indígenas constituídos por materiais orgânicos, calcáreos e que, empilhados ao longo do tempo acabaram por sofrer uma fossilização química. Estudos recentes sugerem que os sambaquis tenham sido produzidos por povos que viveram na costa brasileira entre 8 mil e 2 mil anos atrás. Com esse cenário de alto risco para a degradação, a praia de Atlântida, no município de Xangri-lá, é, portanto, mais um exemplo de descuido, que somados a tantos outros sambaquis que estão sendo destruídos, torna-se cada vez mais real o risco desses locais desaparecerem.

O problema não é uma exclusividade de Xangri-lá. A ocupação desordenada, a especulação imobiliária e a retirada das dunas, entre outros fatores, fizeram com que patrimônio dos sambaquis quase desaparecesse do mapa gaúcho. O Morro dos Índios é um dos que ainda resistem, embora extremamente reduzido de seu tamanho original. É possível avistar da Estrada do Mar o monte circundado de casuarinas. Espera-se que ainda por muito tempo. Na verdade, que ele resista a esta e outras futuras gerações. Vamos torcer para que as autoridades encontrem um bom desfecho para o problema.

(Como me desloquei do Noroeste gaúcho e viajei até o litoral, minha matéria não foi desenvolvida em Ijuí)

5 comentários:

  1. Nossa, acho um absurdo o que o Brasil faz com o patrimonio historico, Janis, e um tema pra la de importante. Vc ja deve ter ouvido falar que o nosso pais nao tem meoria, ne? Nao e a toa, nao preservam nada! Sabe pq Portugal e pais de primeiro mundo? Apesar da falta de calcadas rs qq vilazinha pega no seu centgro historico, coloca sinalizacao apropriada e tem um centro de apoio turistico. Nao cidade sem historia, ne? Parabens pelo trabalho, e muito informativo e seu texto e firme e atraente!

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  2. Gente, aqui na cidade estão derrubando a rodoviária "velha"! A edificação está numa situação de total abandono e por isso mesmo, o prédio ameaça cair. O problema é que nem se tentou restaurar a rodoviária, fizeram uma maior, em outro canto e pronto. Esta primeira era uma bela representação da arquitetura mdoerna dos anos 50-60 (auge da econômico da região com sua produção cafeeira), tinha rampas, áreas dpanrâmicas e um belo arco de concreto. Um marco! Ainda me lembro dela "inteirona" nos anos 90. É como disse a Andreia: nosso País não tem memória!

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  3. Cara Janis, meu nome é carlos sou morador próximo ao sambaqui de Atlantida em Xangri-lá.Possuo um terreno com casa hà 8 anos em uma rua próxima.O que gostaria de esclarecer-lhe é a verdade sobre o sambaqui.Este patrimonio histórico está sofrendo depredação e invasões devido ao descaso não apenas da população,mas devido ao descaso da prefeitura municipal que administra o município a 8 anos.Claro que não é culpa somente da atual administração,mas esta é a que enfrentou ou está assistindo todo este dilema,inclusive o enfrentamento do batalhão ambiental e do ipham com suas notificações e hostilizações as pessoas que lá residem.Visto que se trata de um patrimonio cultural a responsabilidade pelo cuidado e conservação da área é da prefeitura municipal.Esta ao meu ver peca neste sentido.Bem não poderiamos esperar outra coisa,visto que não limpam nem as ruas,todas cobertas de buracos e sem manutenção alguma.Quando falo de hostilizações refiro-me ao processo de notificações expedidas pelo batalhão ambiental que no dado momento agiu desta forma amedrontando a população.Ainda temos uma questão referente a terrenos escriturados e totalmente legais próximos que também foram notificados e seus donos tratados como invasores e até como vagabundos comuns,sofrendo com processos na justiça comum e sendo impedidos de usufruirem de um bem que a muito custo adquiriram.O problema deste sambaqui está além da história,virou um problema social.De um lado temos invasores,de outro temos donos legais e de outro ainda não comentado posseiros que adquiriram terrenos afastados do sambaqui.Meu terreno e casa é um destes exemplos de posse.Não invadi,comprei e paguei.Assim como eu mais pessoas também.Muito foi reclamado a nossa prefeitura a respeito desta situação e nada foi feito.Houve muitas promessas mas o que vemos é o descaso e até hostilizações.Por isso peço a você que não esqueça deste tema e ajudenos a resolver da melhor maneira este dilema.Não se esqueça de que nem todas as pessoas que aqui residem são invasoras e querem destruir o sambaqui,queremos sim uma solução e que aqueles que dirigem nossa cidade pare de negar-se a cuidar de sua cidade.Desde já agradeço sua atenção.Meu email é carlosjoessemam@hotmail.com.

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  4. Cara janis só para retificar sua informação os condominios e as vilas citadas na matéria não encontran-se a 100 mtrs do morro,e sim a 1000 mtrs.

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  5. Muito boa sua matéria! Conheci quando criança no tempo que Capão Alto era grudado em Capão da Canoa. Nesta época sambaqui brilhava sob o sol e era inacessível e desconhecido dos veranistas. Depois disso, nunca mais achei o caminho para o local. Muito triste em saber dessa situação! Abraço!

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