segunda-feira, 14 de junho de 2010
Família de Dunga responde a críticas de conterrâneos do técnico da Seleção em Ijuí
Torcida ijuiense apoia sim o técnico Dunga
É a quarta vez que Ijuí assiste à Copa do Mundo torcendo por um dos seus mais célebres conterrâneos
Desde ontem, todas as atenções estão voltadas aos astros do esporte mais praticado no planeta. Com exceção dos EUA, Cuba e Venezuela, o futebol é a preferência mundial. Dentre os países, o número um da Fifa veste a camisa canarinho. Na frente da seleção, está Dunga. Todo o país torce pelo sucesso dele e dos seus 23 escolhidos. Mas diante dessa torcida de mais de 191 milhões, estão 79 mil que habitam a terra natal do ex-jogador. Estes assistem pela quarta vez a participação de Dunga nas copas. Três vezes como jogador e agora como técnico.
Embora Ijuí não se intitule a Terra do Dunga, essa relação é próxima. No domínio público, a única referência é modesta. Trata-se do Largo Capitão Dunga, inaugurado após a conquista do tetracampeonato do Brasil com grande festa popular. No âmbito privado, aqui ainda moram os pais e a irmã do técnico, preservados do assédio da imprensa devido à doença que acomete o também ex-jogador Edelceu e que exige cuidado constante da Dona Maria.
É por isso, que nas folgas entre os compromissos, o herói do tetra aparece por aqui. Antes, essas visitas eram acompanhadas de jogos festivos, em que o pai gostava de mostrar o filho campeão aos amigos e todos podiam confraternizar. "A família vive uma dualidade, se por um lado estamos extremamente orgulhosos com o trabalho do Dunga, o momento vivido nos últimos três anos é um dos mais difíceis, contrastando com o lado festivo da Copa do Mundo. Tal fato faz com que a família prefira evitar um maior contato com a imprensa", explica o cunhado do Dunga, Ivo Boratti, porta-voz oficial da família Verri.
Essa realidade adversa motiva reações. Muitos acreditam que Dunga não valoriza a cidade em que nasceu. "É lamentável que pessoas esclarecidas declarem que Dunga não se orgulhe da sua terra", dispara. "Você acha que o presidente Lula, por exemplo, antes de uma reunião na ONU, declara que é natural de Garanhuns", pondera Boratti. Para a professora do curso de Psicologia da Unijuí, Iris Campos, a relação é de reciprocidade. Para ela, Dunga cita Ijuí tanto quanto a cidade cita-o. "O retorno que Dunga dá ao município é proporcional ao que ele recebe", defende. Como exemplo, ela lembra Santa Rosa que construiu uma estátua em homenagem ao memorável goleiro da seleção Taffarel. "A rótula é visível e marcante na cidade", avalia. Para ela, outra explicação pode estar relacionada à personalidade forte do Dunga. "Parece-me que ele faz questão de ser reconhecido pela sua competência e não necessariamente por ter agradado alguém, e isso nem sempre é simpático aos olhos dos outros", pondera.
Outro sentimento que pode estar presente nos momentos de crítica dos conterrâneos ao Dunga é que por ele ser de Ijuí, muitos o conheceram pessoalmente e estranham o fato de ele ter chegado aonde chegou. "É mais difícil tratar como ídolo alguém tão igual a nós, humano como nós, com defeitos também e que conhecemos de perto antes da fama", garante.
Personalidade forte é mal interpretada
Outro foco das críticas ao Dunga vem da imprensa. Mas para o editor de Esporte do Jornal da Manhã, Carlos Alberto Padilha, a realidade não é bem como pintam alguns articulistas do centro do país. Ele já fez mais de oito entrevistas com a celebridade ijuiense, desde o tempo em que o atual comandante da seleção era jogador, e sempre foi bem recebido. "Ele é mal interpretado porque ele não se preocupa com o que a imprensa diz, mas no sentido de confiar no próprio trabalho e reforçando que não é influenciável por uma opinião ou outra", explica.
Padilha garante que Dunga gosta de dar entrevistas, mas para quem mostra conhecer futebol. "Ele responde todas as perguntas e, ao final, a conversa sempre continua, informal, em tom amistoso, bem diferente do que muitos jornalistas sensacionalistas dizem", conta.
Padilha concorda que o fato de ele não se preocupar em agradar pode ser a origem de certas perseguições. Mas esse jeito de ser é um traço da personalidade dele. Ele próprio presenciou em 1979 em um jogo amador no Estádio 19 de Outubro, quando o Dunga junto ao pai e outros esportistas, na época prestes a embarcar para Porto Alegre para jogar no juvenil Internacional, dá um exemplo da sua frieza e fé em si próprio. Dunga ouviu calado outro aspirante a jogador se vangloriar de que se tivesse chance seria um craque. "Dunga escutou calado, sem se preocupar em responder e hoje, aquele que se dizia um ótimo jogador, apenas conheceu a vitória na história do Dunga. Não vingou".
Essa personalidade forte de fato é imprescindível no futebol. "Futebol traz uma posição psíquica muito difícil, é o tudo ou nada, o segundo lugar é considerado uma desonra e isso é perigoso e preocupante", alerta Iris. Ao que parece, Dunga está consciente da responsabilidade que tem. Foi chamado à seleção para moralizar e renovar, após a péssima impressão causada pela seleção comandada por Parreira em 2006. E está fazendo isso apesar das críticas e desconfianças.
Mais do que o Rio Grande do Sul e Ijuí, a quem chama de sua aldeia, nos próximos 30 dias Dunga está representando o País. O que já fez como jogador, quando conheceu a derrota e a glória. Os ijuienses, acima de qualquer posicionamento, querem receber como presente do treinador Dunga o hexacampeonato. Mas se infelizmente, a taça não vier, ele estará preparado para responder pelas escolhas que fez. "Ninguém mais do o Dunga quer trazer a Copa para o Brasil. A gente sabe que não será fácil, mas estaremos ao lado dele em qualquer resultado", finaliza Boratti.
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